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"Recova de la Carne" em Buenos Aires

As recovas de Buenos Aires

Uma característica muito comum na arquitetura portenha, as recovas são galerias ou passagens de pedestres de uso principalmente comercial, frequentes na cidade de Buenos Aires.

Os objetivos ao se construir uma recova eram dar abrigo do sol aos cidadãos e prover um local adequado para o comércio varejista, tornando-se assim galerias cheias de mercadores e gente transitando à sombra.

A “Vieja Recova”

A primeira recova construída em Buenos Aires foi denominada “Recova de la Carne”, uma galeria comercial que dividia duas praças: a Plaza de la Victoria e a Plaza del Fuerte (na atual Plaza de Mayo). A construção da Recova Velha começou em 1802 e sua demolição se deu em 1884.

Em 1803, o Vice-Rey Joaquín del Pino mandou construir a recova sob direção do mestre Juan Bautista Segismundo e de dom Agustín Conde; foram construídas duas alas de lojas em fila dupla, com onze arcos de cada lado. Uma novidade para a época foi que todos os muros foram construídos com tijolos pré-moldados. No ano seguinte, en 1804, foi construido um grande arco chamado “Arco de los Virreyes”, que permitiu unir as duas alas, completando assim o projeto original em estilo neoclássico.

A Recova foi a primeira galeria comercial de Buenos Aires, e estava ocupada por diversos comerciantes que pagavam entre 14 e 20 pesos mensais de aluguel ao Cabildo. Havia vendedores oferecendo de tudo para a população de classe baixa, como roupas, objetos de bazar, artigos de montaria, velas e muito mais. O principal destino da construção era o negócio de carnes e aves domésticas, e dessa atividade vinha o nome do local, já que se denominava “La Recova” a todo local em que se vendia galinhas e aves domésticas.

Em tempos de recova, ir às compras levava muito pouco tempo. Bastava atravessar a “Plaza de la Victoria” (atual Plaza de Mayo) e percorrer as barracas dos “bandoleros”, como se chamava então os comerciantes.

"Plaza de la Victoria" e a Recova, 1849
“Plaza 25 de Mayo (lado que dava para o Forte)” e a Recova, 1849

Após a Recova, a praça ficou dividida em duas: de um lado a “Plaza de Armas” ou “Plaza del Fuerte” e do outro a “Plaza Mayor”, que a partir de 1808 se chamaria “Plaza de la Victoria” em comemoração à vitória sobre os ingleses em 1806. A parte que dava para o Forte luego passou a chamar-se “Plaza 25 de Mayo” em 1810. Nesta parte, justo onde hoje está a estátua de Belgrano, funcionava um improvisado mercado de alimentos até 1815.

À esquerda estava o primeiro teatro Colón, transformado depois em banco Nación Argentina.

Privatização e demolição

Após passar por leilões, a recova foi privatizada e vendida a Tomás de Anchorena na década de 1840. Com o fim do bloqueio anglo-francês a Recova foi perdendo sua função, que era a de abastecimento de carnes, frutas e verduras, e passou a abrigar artesãos e outros profissionais.

Em 1869 foi proposta a demolição da Recova velha para que a “Plaza de la Victoria” tivesse seu espaço ampliado, mas as finanças negativas com os gastos da guerra e a epidemia de febre amarela fizeram o projeto naufragar.

Torcuato de Alvear, Intendente que levou adiante uma grande quantidade de obras destinadas à saúde da população e o embelezamento urbano, decide pela demolição da Recova. O Intendente mandou começar os trabalhos de demolição pelo arco central da recova em agosto de 1883 (já que essa parte do prédio pertencia à municipalidade). O resto do edifício, que pertencia à família Anchorena, entrou em processo de expropriação e foi demolido completamente em maio de 1884.

Casa de Gobierno, Palacio de Correos y Recova
A Casa do Governo e o Palácio dos Correios ainda sem o arco, e a demolição da Recova (à direita a “Nueva Recova”)

Além de demolir a Recova, o Intendente também mandou derrubar as árvores que rodeavam a praça; felizmente a ordem não foi seguida e as palmeiras que estão ali hoje já estavam desde aquela época. Assim, com a demolição da Recova as duas praças ficaram unidas no que hoje se chama “Plaza de Mayo”.

Na realidade a praça continuou dividida pela calle Defensa, mas em 1890 esta passagem foi fechada.

Vídeo: A Recova de Buenos Aires em 3D

A Recova foi a primeira galeria comercial de Buenos Aires. Construída em 1803 em 9 meses, durou 81 anos e foi demolida em 1883, em 48 hs.

A “Nueva Recova”

A partir de 1818 surgiram novas galerias na quadra em frente à praça e a essa parte se denominou “Nueva Recova” por ser mais moderna que a outra que havia sido construída em 1803. Assim a “Recova de la Carne” passou a ser conhecida como “Vieja Recova”.

Lateral da Recova velha, com a Recova nova de frente
Lateral da Recova velha, com a Recova nova de frente (atual esquina de Defensa e Yrigoyen)

A chamada “Nueva Recova” ficava na calle Victoria (atual Hipólito Yrigoyen) entre Defensa e Bolívar. Na esquina de Defensa e Victoria se instalaram vários fotógrafos, que tinham uma grande superfície envidraçada para aproveitar ao máximo as horas de sol.

A Recova nova tinha linhas mais modernas
A Recova nova tinha linhas mais modernas

Outras recovas pela cidade

À época das já conhecidas galerias, o governo havia ordenado a construção de recovas nos edifícios que davam frente ao Paseo de Julio (atual avenida Leandro N. Alem) e ao Paseo Colón. Uma reforma posterior da lei incluiu as ruas ao redor da plaza Once de Setiembre (atual Plaza Miserere).

Estas recovas estão todas lá até hoje.

Recova del Bajo
Recova del Bajo

Caminhando pela cidade de Buenos Aires vemos muitos calçadas cobertas, no estilo de recovas, tanto arqueados como com colunas retas e vãos quadrados.

A Recova del Bajo, segundo o decreto governamental, percorria um dos lados do que hoje são a Avenida del Libertador (Retiro), a Avenida Leandro N. Alem (antigo Paseo de Julio) e o atual Paseo Colón.

Recovas no Paseo Colón
Recovas no Paseo Colón

Diferente de outras partes bem conservadas da cidade, a Recova de Once (avenida Pueyrredón entre Bartolomé Mitre e Rivadavia) se encontra em situação lastimável. Está situada na região de comércio popular de Once, bairro assim chamado devido à Plaza Once de Septiembre (atual Plaza Miserere).

Recova de Once (avenida Pueyrredón entre Bartolomé Mitre e Rivadavia)
Recova de Once

Infelizmente a Recova de Once está tão abandonada que quase já não se nota que é mais uma dessas galerias centenárias.

E o próprio Cabildo tem a sua recova.
A recova do Cabildo
A recova do Cabildo

E você, já notou outras Recovas ao caminhar por Buenos Aires?

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